13.11.11

Veio manso, abraçou, preparou chá, limpou o que sangrava, fez curativo no que o tempo não havia conseguido fechar. Estendeu a mão, contou sua história, entregou toda a doçura que ainda existia no que também lhe doía. Ambos machucados, vendo esperança no que o outro perdera… Tentando nos convencer de que a partir daquele nada poderíamos ter algo novamente. Foi ali que achei que nós nos entenderíamos.

Encarava fulminantemente o âmago dos meus olhos e me desconcertava todas as vezes. Brincava de fita-lo até que ele desviasse o olhar, mesmo sabendo que eu sempre desistia segundos depois. Ele mais destemido e eu sempre acanhada. Não suportava aquele olhar tão determinado, ele me desmontava em inúmeros pequenos pedacinhos que ficavam aos seus pés… Esperando serem consertados. Desviei o olhar. O que sinto era tão tímido quanto eu e até um pouco imaturo.

Tive vontade de abandonar longe de casa tantas memórias tristes depois que seus dedos tocaram meus cabelos embaraçados. Nada que me remetesse a outras histórias nem a outros amores, quis manter apenas a pessoa na qual eu havia me tornado a partir deles. Prefiro este eu, disse baixinho, o eu que aprendeu muito. Estive disposta a construir um mundo todo do zero, caso nada no meu mundo pudesse ser salvo. Estive disposta a me reconstruir de diversas formas, caso alguma pudesse dar certo pra nós. Quis dar muito de mim, você sorriu e eu quis te entregar quase tudo.

Aproximou-se além do que deveria. Eu quis algo. Você corria em minha direção e fugia de mim ao mesmo tempo. Naquela semana suspeitei que você quisesse nada. A certeza doeu. A certeza perfurou o meu peito e o fez ressoar madrugada adentro. Voltei alguns passos pensando se o havia entendido errado, se havia o entendido ao menos em algum momento. Tentei descobrir quem você era. Quem é. Pensei se me enganei ou se me enganou. Já não sei mais o que você disse, nem o que eu quis escutar. Já não sei o que esqueço e o que quero lembrar.

Indecisos entre o algo e o nada, talvez tenhamos sido quase importantes um para o outro. Fomos quase algo que hoje é nada. Ou é algo. Talvez eu nunca entenda. Num momento quase tudo e no seguinte nada. Percebeu que nada nunca é quase, só é nada. Ponto. Tive nas mãos, segurei-o por alguns instantes. Mas nada. A gente tem que se sentir pronto, precisa enfiar os dois pés na lama e precisa continuar imerso quando o outro não está observando. Nem precisa querer, é só não conseguir em momento algum lutar contra. Eu quis algo. Quis protegê-lo e sabia que poderia fazê-lo mesmo quando não conseguia proteger sequer a mim mesma.

Fui acometida por uma catalepsia quase moral, ficar imóvel era uma dívida que eu precisava pagar à mim mesma. Precisava parar de escutar teu nome subindo as escadas, tocando no meu celular, trombando comigo na Augusta. Perdoe-me se precisei fazer de conta que nunca fomos parte um do outro. E se eu continuar fazendo: respira fundo e vive. Uma hora a gente se encontra e vai ser tudo igual e tudo completamente diferente. Depois se perde de novo, porque é provável que não sejamos mesmo um par. Vive.

Contabilizei se você mais curou do que abriu feridas, tive medo de saber o resultado.

Nicolle Albiero

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